Como os Corpos Indígenas nortistas estão sendo sufocados pela crise climática
21 de nov. de 2025
No Pará, diversas lideranças denunciam o descaso com a saúde indígena, a exposição dos corpos às alterações do meio ambiente, a degradação da flora medicinal e a ausência de suporte do sistema público. Como aponta o pajé Nato Tupinambá, da região do Baixo Tapajós, não existe justiça climática sem preocupação com as comunidades indígenas, afirmativa que revela a negligência governamental diante das necessidades desses povos em seus territórios.

Por Christian Emanuel
Como a crise climática afeta indígenas em território e em contexto urbano no Norte do Brasil? Em linhas gerais, os povos originários seguem sofrendo com desmatamento, garimpo ilegal, ausência de demarcação e falta de representatividade política, mas a crise climática intensifica um fluxo já devastador dessa realidade.
No Pará, diversas lideranças denunciam o descaso com a saúde indígena, a exposição dos corpos às alterações do meio ambiente, a degradação da flora medicinal e a ausência de suporte do sistema público. Como aponta o pajé Nato Tupinambá, da região do Baixo Tapajós, não existe justiça climática sem preocupação com as comunidades indígenas, afirmativa que revela a negligência governamental diante das necessidades desses povos em seus territórios.
A defesa ambiental para os povos indígenas é, acima de tudo, defesa da própria existência. Sair de seus territórios não é uma opção: são espaços de vínculo ancestral, memória e herança coletiva. Quando comunidades são ameaçadas ou expulsas, não apenas as vidas são impactadas, os próprios territórios sofrem com abandono, perda de biodiversidade e ruptura das relações de cuidado historicamente mantidas.
O documentário A 7 Palmas da Liberdade, da Negritar Produções, traz relatos de indígenas, quilombolas e ribeirinhos do Alto Acará, suprimidos pela atuação da Agropalma, que se autodeclara maior produtora de dendê da América Latina e ocupa cerca de 107 mil hectares entre Acará e Tailândia. O filme denuncia poluição dos rios, restrição de acesso a áreas essenciais para alimentação, transporte e memória, incluindo o impedimento a espaços simbólicos, como o cemitério de Nossa Senhora da Batalha.
O racismo ambiental também atinge indígenas em contexto urbano, que enfrentam segregação, preconceitos contra grafismos, adornos e seus fenótipos. Distantes dos territórios, essas pessoas lidam com impactos climáticos e sociais agravados pela falta de pertencimento, redes de apoio e acesso a práticas ancestrais.
As cidades, cada vez mais desmatadas, apresentam menos áreas verdes, rios contaminados e canais degradados. A alimentação é distante da qualidade presente em territórios preservados, onde a pesca e a agricultura, práticas ancestrais, ainda são possíveis. Para muitos, migrar em busca de melhores oportunidades acaba resultando em piores condições de vida.
Mesmo assim, indígenas em contexto urbano seguem articulando cuidado, proteção espiritual e resistência. Um exemplo é Hevelyn Maia Tupinambá, travesti educadora e ativista que acolhe parentes LGBTQIAPN+ no Pará, fortalecendo saúde mental, vínculos comunitários e a valorização da preservação ambiental de territórios e comunidades tradicionais.
Crédito da imagem: Joédson Alves / Agência Brasil
Referências:
NEGRITAR PRODUÇÕES. A 7 Palmas da Liberdade. 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ynVeB7Gv2u0
HEVELYN MAIA TUPINAMBÁ. Disponível em: https://www.instagram.com/hevemaia/
CASA NINJA AMAZÔNIA. Pajé Nato Tupinambá. 2025. Disponível em: https://www.instagram.com/reel/DRAfXevkYmq/?igsh=aG1kdG85YmFpanIx
NEGRITAR PRODUÇÕES. A 7 Palmas da Liberdade. 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ynVeB7Gv2u0
TERRA DE DIREITOS. Comunidades do Vale do Acará (PA): a resistência pela ancestralidade diante do agronegócio do dendê. 2022. Disponível em: https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/comunidades-do-vale-do-acara-pa-a-resistencia-pela-ancestralidade-diante-do-agronegocio-do-dende/23801