Juventudes negras, periféricas e amazônidas na luta por justiça climática, conectando-as à interseccionalidade entre raça, clima e gênero

17 de nov. de 2025

A luta das juventudes negras, periféricas e amazônidas por justiça climática nasce da experiência concreta de viver em territórios transformados em zonas de risco pela combinação entre racismo ambiental, desigualdades históricas e violência estatal. Como mulher negra, periférica, quilombola e amazônida, afirmo que não existe neutralidade possível: nossos corpos e territórios são as primeiras fronteiras atingidas pelo avanço da crise climática.

Por Sara Emanuelly

A luta das juventudes negras, periféricas e amazônidas por justiça climática nasce da experiência concreta de viver em territórios transformados em zonas de risco pela combinação entre racismo ambiental, desigualdades históricas e violência estatal. Como mulher negra, periférica, quilombola e amazônida, afirmo que não existe neutralidade possível: nossos corpos e territórios são as primeiras fronteiras atingidas pelo avanço da crise climática.

A interseccionalidade entre raça, gênero e clima mostra que mulheres jovens negras ocupam a linha de frente da vulnerabilidade. A Coalizão Negra por Direitos afirmou em seu manifesto para a COP30 que “não haverá justiça climática sem enfrentamento ao racismo ambiental”. Nas periferias urbanas, é a juventude que convive com o déficit de saneamento, com ilhas de calor intensificadas pela urbanização desigual e com inundações que atingem sempre os mesmos bairros. Da mesma forma, povos tradicionais e comunidades quilombolas veem seus modos de vida ameaçados pelo desmatamento, por grandes empreendimentos e pela expansão do petróleo, impactos que recaem de forma desproporcional sobre as juventudes racializadas.

Mesmo diante de um cenário marcado por desigualdades profundas, são as juventudes negras que têm produzido as respostas mais inventivas e transformadoras para a crise climática. Nos territórios periféricos e amazônidas, emergem experiências de monitoramento climático comunitário, produção de dados populares, comunicação de crise e tecnologias sociais que nascem da urgência, mas também da criatividade política desses jovens que reinventam o futuro a partir das margens. Essa força aponta para um caminho inescapável: nenhuma política climática será eficaz se não reconhecer que as soluções já estão sendo formuladas nos territórios negros, periféricos e tradicionais.

Essa visão demanda uma agenda de adaptação que seja antirracista, feminista e verdadeiramente territorial. É preciso assumir que a proteção climática deve começar justamente nos lugares onde o Estado historicamente se ausentou, ou seja, nas periferias urbanas que convivem com insegurança hídrica e ilhas de calor, e nas fronteiras amazônicas ameaçadas pelo desmatamento e pelos grandes empreendimentos. O país só avançará quando colocar no centro do planejamento aqueles que sempre foram colocados à margem, porque são esses corpos e territórios que sentem primeiro e mais profundamente os efeitos do colapso climático.

Por isso, defendemos políticas que redistribuam não apenas recursos, mas poder: financiamento direto para organizações juvenis negras, participação qualificada nas instâncias de governança climática, proteção efetiva às defensoras ambientais e reconhecimento institucional dos saberes tradicionais, quilombolas e periféricos como pilares estruturantes da ação climática. A estabilidade ambiental do Brasil depende da força desses territórios e da sua centralidade na tomada de decisões. Justiça climática, para nós, não é uma demanda: é uma urgência de vida e um compromisso civilizatório.

Assim, reafirmamos: justiça climática é, também justiça racial.