Pesos e medidas que as nações devem enfrentar nos acordos da COP 30

21 de nov. de 2025

Se, por um lado, as COP’s não contribuíram diretamente para tornar as sociedades menos dependentes dos combustíveis fósseis, por outro, sem as decisões tomadas nos eventos estaríamos em um caminho que nos levaria à decadência mais depressa e com impactos mais severos no clima. Por este motivo, a expectativa é que, com o evento voltando ao Brasil e ocorrendo em uma região tão simbólica quanto a região amazônica, houvesse acordos relevantes para garantir uma vida de qualidade para as futuras gerações.

 Por Giovanni Palheta

A humanidade enfrenta o seu maior desafio enquanto espécie, que é frear os impactos causados pelas mudanças do clima e as diversas consequências que vêm atreladas a essas mudanças. Para tentar mitigar os impactos do aumento da temperatura média do planeta, os estados-membro da Organização das Nações Unidas (ONU) promovem encontros anuais por meio de conferências do clima para tratar da crise climática e propor soluções que são formuladas com o auxílio da sociedade civil. No entanto, o que se tem observado durante vários anos são propostas vagas e metas ineficazes que empurram responsabilidades para um “depois” que não chega.

Uma das principais conferências sobre o meio ambiente ocorreu no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, e ficou conhecida como ECO-92. No evento, formou-se a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que daria origem às COP’s (Conferência das Partes), que possuem, dentre seus objetivos, estabelecer metas de comum acordo entre as nações para diminuir as emissões de gases do efeito estufa. Porém, após décadas, teríamos um norte para conseguir atingir os objetivos de um desenvolvimento sustentável? As respostas podem variar, dependendo do referencial. 

Se, por um lado, as COP’s não contribuíram diretamente para tornar as sociedades menos dependentes dos combustíveis fósseis, por outro, sem as decisões tomadas nos eventos estaríamos em um caminho que nos levaria à decadência mais depressa e com impactos mais severos no clima. Por este motivo, a expectativa é que, com o evento voltando ao Brasil e ocorrendo em uma região tão simbólica quanto a região amazônica, houvesse acordos relevantes para garantir uma vida de qualidade para as futuras gerações.

Dentre os principais pontos que ocorrem nas conferências do clima está a pressão exercida pelos países do sul global. Estes exigem financiamento de fundos dos países do norte global (aqueles que mais contribuem para as consequências da crise climática) para proteção de florestas e parcerias por meio de investimentos em pesquisa e inovação. 

O financiamento para reduzir os impactos das mudanças no clima nos países menos desenvolvidos pode ser conquistado por meio de iniciativas como o Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF), uma proposta surpresa que foi liderada pelo Brasil em paralelo à COP 30, este ano. Este fundo manterá um sistema de pagamento para países que mantêm suas florestas intactas, valorizando a regulação do clima e a absorção de carbono, gerando uma compensação financeira para os países que desejam fazer parte do fundo. Isso garante que haja a manutenção dos serviços essenciais à vida humana, a valorização dos recursos naturais, sua extração sustentável e a conservação da biodiversidade.

A COP 30 realizada na cidade de Belém-PA está sendo chamada de a COP da Amazônia. Esta conferência por sua vez, deveria ser a conferência da implementação, como dito por lideranças do governo como a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o governador do estado do Pará Hélder Barbalho. Na trigésima edição da conferência das partes, também completa-se 10 anos do Acordo de Paris que foi formulado em 2015 na COP 21, um dos acordos mais relevantes dos últimos anos, considerando as edições anteriores. No acordo, os governos se comprometeram em limitar o aumento médio da temperatura global, isto é, mantendo a temperatura média mundial abaixo dos 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, através de planos de ação nacionais. Os países deveriam formular as suas próprias contribuições de redução das emissões, na chamada Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). Infelizmente, após uma década, a maioria dos países, incluindo o Brasil não conseguiram cumprir suas próprias diretrizes, com as metas sendo até mesmo insuficientes¹, sendo necessário uma formulação mais robusta e ações mais eficazes para cumprimento das metas. Além disso, há diversas críticas ao evento de 2025 como o patrocínio e presença de empresas que promovem o greenwashing, bem como aquelas que causaram e causam impacto nos ecossistemas amazônicos nas regiões próximas a capital paraense, como no município de Barcarena². Construir acordos com países que possuem diferentes economias, culturas e interesses é um desafio tremendo, sobretudo quando envolve chegar a consensos entre dezenas de representantes de países membros, com influência de empresas e pressão de lobistas que atrasam negociações. Esses agentes externos com poder econômico são uma pedra no sapato nos acordos, pesos que devem ser sempre considerados, e por vezes, combatidos.

Outro grande problema é a falta de instrução da população, que, por sua vez, põe em dúvida as evidências relacionadas à urgência climática. Um fator interessante nessa equação é que os aspectos relacionados à negação da ciência e das mudanças climáticas são convenientemente relevantes para países mais poluidores, como os Estados Unidos, onde o governo federal, por vezes, debocha, ameaça sair de acordos e ainda não envia representantes oficiais para o evento. Essa falta de iniciativa de um dos países que mais contribui para as emissões de gases do efeito estufa é uma política de governo nociva que contribui para o atraso das metas de cooperação global. É um prato cheio para grandes empresas privadas que se beneficiam da destruição do planeta e da promoção da desinformação sobre a ciência climática. Tudo isso não é por acaso. Sabe-se que as grandes empresas de tecnologia estão disseminando desinformação climática sem uma política de controle de conteúdo, algo que é premeditado. A Climate Action Against Disinformation (CAAD), coalizão global de mais de 90 organizações que atuam na defesa do clima e de combate à desinformação, verificou que a desinformação sobre a COP atingiu níveis recordes em 2025. Houve um aumento de 267% na desinformação relacionada à COP entre julho e setembro³, com cerca de 14.000 exemplos online de publicações nesse sentido. Os países, além de estabelecerem suas metas e NDC’s como medidas, devem pensar em políticas de combate à desinformação nas redes sociais. Aliança com comunicadores e pesquisadores, universidades, ONG’s e instituições relacionadas, para poder lidar com evidência e preparo com o maior desafio que enfrentamos: a mudança do clima e aqueles que a promovem.

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1. Nunes, M. S. (2022). O Brasil no Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas um estudo sobre o cumprimento das metas de redução de emissões no setor de energia. Editora Licuri, 1-47.

2. Rodrigues, J. C., Hazeu, M. T., & do Nascimento, S. M. (2019). Como se produz desastres?: o processo de licenciamento da barragem de rejeitos da Hydro Alunorte, em Barcarena, Pará. Nucleus16(2), 151-170.

3. CLIMATE ACTION AGAINST DISINFORMATION. **Deny, Deceive, Delay**: demystified. [S.l.]: CAAD, 2025. Disponível em: < https://caad.info/>.

  1. Crédito da imagem: Bruno Peres / Agência Brasil